quarta-feira, dezembro 30, 2009

Diário IV

Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondida e, de repente, salta pra fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma necessidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.
[Limite Branco de Caio Fernando de Abreu. pág. 71]

Ele não escreve nada que eu não pudesse escrever, mas me passa uma inveja tremenda.
Obrigada mais uma vez pelo livro Emilicas.

Não tô pra palavras.

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